domingo, 7 de dezembro de 2008

Um brinde à primeira vez

“Vinho, mas só em ocasiões especiais.” Quando ela mostrou a garrafa eu sorri, era um momento especial. Um brinde à primeira vez, porque algo em mim dizia que não seria a última. Um beijo para provar aqueles lábios doces e aquela adolescente sensação de não saber o que fazer com as mãos, já que o único desejo era o de tomá-la. E foi o que fiz, foi o que fizemos. Devagarzinho, porque apesar da sede, não havia pressa. Porque só uma mulher sabe o prazer que é ser deliciosa e lentamente seduzida. Porque não era novidade, mas era a primeira vez. Porque o desejo de guardar a melhor lembrança daquele primeiro encontro, era maior que o arrebatamento das nossas vontades. Porque aqueles olhos iluminavam a penumbra do quarto, e o tato era cada vez mais aguçado pela curiosidade e o desejo. E então, cada peça despida era um presente, cada sensação do toque era uma dádiva, mas nada se compara ao prazer de percebê-la encharcada só com estas doces carícias. Foi instinto, imediato, também melei. E provei. Provamos. Nos beijamos, nos bebemos, nos comemos, porque a minha sede era dela e a sede dela de mim. Porque nunca as horas passaram tão rápido, porque os gemidos nunca foram tão intensos, porque a vontade nunca foi tanta e o prazer nunca foi tão explícito e sem vergonha. E quando lembro melo, sorrio, contraio, estremeço e gozo. “À primeira vez!”, foi o brinde. Memorável, inesquecível."

B. em seu blog "A vida Secreta"
http://www.avidasecreta.com/um-brinde-a-primeira-vez/

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Teimosia

A menina caminha de um lado para o outro. O olhar sério, a cara amarrada. Inquieta, repetindo mentalmente cada frase, sem falar nada. Assim passa dez longos minutos. Os dez mais longos minutos. E só depois disso, fala com ares de decidida:

_ Quero escrever sobre sexo!
_ Ora, você é uma menina! O que sabe sobre sexo?
_ Nada! Mas por isso mesmo...
_ Por isso mesmo você deveria se preservar!

A menina respira fundo. Conta até três. Conta até dez. Conta até vinte e dispara:

_ Você acha que tem alguma coisa de errado com o sexo?
_ Não. Eu acho que tem com o modo como as pessoas encaram uma menina que pensa em sexo.
_ Você acha que é vergonhoso uma menina pensar em sexo?
_ Acho que pode se transformar num fardo difícil de carregar.
_Você acha que eu seria mal interpretada?
_ Acho.

A menina senta e segura o próprio rosto com as duas mãos, os braços apoiados na mesa e o olhar parado, prestando atenção numa migalha de pão minúscula. Mais um instante e ela levanta novamente os olhos, firmes:

_ Mas eu quero!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O porquê das palavras inteiras

Não estou confusa.
Sei exatamente o tamanho do meu amor e dos meus desejos.
Eu não amava você, eu amo. É diferente.
E é um desses grandes amores que a gente cria e depois não sabe mais se é real ou imaginário. De qualquer forma, mesmo que eu tenha inventado esse amor, ele existe.

Mas eu também tenho amor-próprio e algum discernimento.
Precisava dizer que você não foi leal e que isso me deixou um gosto amargo na boca.
Precisava dizer que esperava muito mais de você, mas nunca soube cobrar.
Sou avessa às cobranças.

Eu opto pelas palavras inteiras porque já sei de mim. Ruminei cada um dos meus sentimentos e os aceito bem, tenho carinho por eles. Por causa disso, posso até me dar ao luxo de ser racional.

Fico aqui pensando sobre essa sua volta e me pergunto se você agora me oferece todas as suas flores por causa de algo que eu posso representar a você ou por que não consegue aceitar uma perda. Qualquer perda que seja. Preciso encarar que talvez você só não queira admitir que perdeu o jogo, por mais que já estivesse mais do que evidente que estava perdido. Para pessoas como nós, perder sempre dói. Seja um jogo de cartas, uma briga, um amor, um qualquer coisa que mecha com o orgulho. Existem gradações aí e é em busca delas que estou.

Perdoo você por todas as suas confusões e incompletudes, tenho também as minhas. Só não perdoo pelo tempo que se passou e não volta. Você já perdeu demais da minha vida e isso foi escolha sua. Eu poderia ter morrido nesse meio tempo. Tive até uma chance real para isso e de fato eu estive morta por dentro durante dias e dias e você não estava lá. Outras pessoas estavam e continuam comigo. Elas merecem hoje meu apreço, meu abraço e minha gratidão. E você eu não culpo por não ter tomado conhecimento do que se passou, mas culpo pelo silêncio.

E agora eu faço falta? E o que aconteceu durante esse tempo todo que não fiz nenhuma falta? O que faz com que agora seja diferente e você já não esteja confortável como antes? É o conhecimento da perda que fez diferença?

Esse é o tamanho da minha mágoa. Mas eu esqueço fácil diante de palavras bonitas. Você me inebria e eu não raciocino direito. Não estou me apegando à mágoa. Não sou rancorosa. Só estou agarrada ao meu amor-próprio.
Preciso de palavras inteiras e lógicas. Há sim meios de explicar o que sentimos com palavras, o único percalço é a dificuldade de encarar nossos sentimentos com sinceridade, aceitá-los e ter coragem para compartilhá-los. Tudo muito difícil.

O mais importante é dizer que não quero suas flores, ainda que sejam as melhores. Tampouco quero acesso ao seu jardim. Quero a sua casa. Os enfeites, a pintura descascada, o pó escondido embaixo do tapete, o chuveiro, o ralo, a cozinha e a cama. Não me entregue o que é bonito se já lhe dei as minhas vísceras.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Quase que um re-encontro

Eu que dormi por tanto, tanto tempo.
Eu que amei a você e a ele.
Eu que reneguei minha identidade, que esqueci o meu nome e que deixei que me fizessem culpa.
Eu que te quis tanto e tanto e nem acreditei quando você sorriu.
Eu que não tive coragem.
Eu que lutei por você e passei noites em claro.
Eu que chorei de ciúmes, de raiva, de medo.
Eu que desisti.
Eu que coloquei a culpa no seu rancor.
Eu que não esqueci.
Eu que mereço o que você me negou.
Eu que te procuro e te leio e te sei, mas não te quero.
Eu que acordei.
Eu que encontrei aquela minha metade perdida.
Eu que estou feliz, como nunca.
Eu que me realizei.
Eu que não preciso mais mergulhar em minhas dores.
Eu que só sou triste por você, distante.
Eu que te entendo, te entendo.
Eu que te queria livre dos muros que você construiu.
Eu que nada posso fazer.

Você escolheu teu mundo cinza quando me ofereci para colorir.
Eu que poderia colorir tua vida, tuas dores, teu tédio, tua angústia.
E você que se fechou, como flor que murcha antes do tempo e por conta própria.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Toda nudez será castigada


Ainda bem que não quero me despir de você...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Amor de Mãe

(Ele ocupa-se de tirar o pó de um velho violino. Enquanto isso, ela se olha num pequeno pedaço de espelho).
.
_ É, ômi... Tu tinha razão. Eu tô veia. Eu virei foi uma amexa seca.
_ Teu coração é que é seco, mulé. Não tua cara.
_ (dando ombros) Já vi que tu vai é passá o dia alisando essa porcaria aí que teu tio te deu. Bem que tu podia vendê isso aí que é pra vê se uma veiz na vida tu trais comida pra dentro de casa.
_ Num tô podendo mais olha pra tua cara, mulé. Tô cuma reiva aqui dentro do meu peito! Nem sei como é que tu pode vivê assim...
_ Eu só tô seguindo com a minha vida, tu é que podia me deixá em paiz.
_ Tu num pode vivê como se num tivesse aconticido nada, mulé. Tu sabe mior do q eu disso. Tu num pode! Num pode!
_ Tu teve comigo esse tempo todo, hômi... Tu me ajudô. Meu destino é o mesmo que o teu. Num tem porque ficá agora me azucrinando.
_ Eu tinha meus pensamento aqui na minha cabeça que eram tudo bão. Eram tudo pra fazê você mais eu feliz. Mas aí tu veio com aquelas história tua...
_ Num tinha otru jeito, hômi... Eu não queria...
_ Num quria, mais tu fêiz. E eu ajudei. Dispois tu fêiz de novo, e de novo, e de novo!
_ Não! Eu num fiz mais!
_ Fêiz sim que eu sei. Nem pediu minha ajuda, mas fêiz.
_ Não! Eu não fiz! Eu não fiz!
_ Quantas veiz foram, mulé? (segurando-a pelo braço, com violência) Fala! Fala de uma veiz!
.
(Tentando fugir, ela pega uma faca que estava sobre a pia o atinge no ventre. Sem forças, ele a solta e ela continua esfaqueando-o, em transe).
.
_ Foram sete veiz, hômi. Sete anjo que eu mandei de vorta pro céu pra num tê que passá por essa vida que é só desgraça. Agora tu vai cuidá dos anjo.
.
(Ela deita sobre ele, abraçando-o e fica imóvel por algum tempo. Levanta-se repentinamente, como se tivesse ouvido algo e com as mãos ensangüentadas retira com cuidado o violino da caixa).
.
_ Shiii! Num chora não, menino. Eu vô cuidá d’ocê. Eu vô sê a mior mãe pra ocê. _ Embalando-o nos braços, ela canta. A voz é rouca e um pouco desafinada – “Boi, boi, boi, boi da cara preta...”
.
(Escrito para a comunidade "Dois Lados da Moeda")

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Sem título 7

A dor em função das palavras ditas é muito maior que aquela provocada pelo silêncio.
É... Agora tudo parece mentira.
E foi você quem disse...

Se ninguém perde o que nunca teve, por que seus dias hoje são cinzas?

Sou dura demais ao conservar palavras tortas?
Ou sou ingênua demais em acreditar que há palavras doces que você queria ter dito, mas não disse?

Tanto faz.
Hoje tudo é vazio.
Vai ver é disso que eu gosto.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Lisos Abraços

(...)

Mas se eu te convidar pra entrar, aceite
Não me poupe dos seus lisos abraços
Eu sei, pode valer à pena,
Só não sei te prender
Nem consigo acompanhar os seus passos

(...)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Às tontas (aula de gramática)


1- Substantivos: Distância, saudade
....................Pele, toque, cheiro.
....................Constância, vontade.
....................Causa, pausa, tempo.
.
2- Adjetivos: Lúgubre, pungente.
................Suave, macio, gostoso.
................Incólume, comovente.
................Sincera, severa, lento.
.
3- Verbos: Fingir, querer.
.............Amar, gemer, gritar.
.............Sentir, enternecer.
.............Assustar, sustar, correr.
.
3- Advérbios: Desoladamente, instintivamente;
.................Assim, dentro, sempre.
.................Incontestavelmente, devotadamente.
.................Junto, muito, tanto...
.
4- Conjunções: Mesmo que, mas, logo.

.
5- Preposições: Durante, até, sem.

.
6- Pronomes: Ele, eu, você...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Insônia


Sem título 6

Espere!
Deixe-me repetir todas aquelas palavras desconexas
Deixe-me tentar encontrar um sentido
Deixe-me enfrentar a minha própria loucura, se preciso!
.
Eu já desisti de ser consciente
Não quero mais a ilusão da consciência.
.
Deixe-me proferir palavras nas quais não acredito
Deixe-me ser outra pessoa
Deixe-me fugir do mundo e de mim mesma...
.
Meu corpo precisa se libertar...
.
Deixe-me!
Deixe-me!
Deixe-me!
.
(escrito em março de 2008)

Sem título 5

A menina acendeu mais um cigarro. Uma tragada após a outra, sem dizer uma única palavra.
.
_ Você agora fuma, menina?
_ É esporádico.
(...)
_ Esporádico é tipo sempre que dá vontade?
_ Mais ou menos isso.
(...)
_ No que você tanto pensa, menina?
_ Eu?
_ É, você! Tem mais alguém aqui?
_ Eu penso que às vezes é preciso matar.
_ Matar alguém?
_ Matar um sentimento. Amor é erva daninha em solo despreparado.
_ Você precisa parar de fumar, menina.
.
A menina apaga o cigarro.
.
_ O difícil é matar um sentimento que não é nosso, sabe? O difícil é que é preciso saber gerar ódio ou não há desilusão. E a desilusão é necessária... Eu dei pra fumar, mas odeio o gosto do cigarro. Inferno!

domingo, 9 de março de 2008

Por favor, doutor..


Existe cura?
Eu preciso, eu preciso urgentemente de uma cura.
.
Lembra aquela coisa que eu disse sobre solidão?
Era mentira.
Pois é, eu menti e acreditei na mentira.
.
Você pode me perdoar se eu for fraca?
Eu posso culpar você se eu for fraca?
.
Se não há cura aplique logo um anestésico!

domingo, 2 de março de 2008

Des-compasso


Primeira tentativa:
A menina acordou com um susto. Respiração ofegante, batimento cardíaco acelerado.
Ainda é madrugada e dormir é preciso. Respira fundo, acomoda-se na cama de barriga para cima e olha para o teto, fixamente, até não conseguir mais segurar os olhos abertos. Desperdício.
.
Segunda tentativa:
A menina dormia um sono muito leve e logo acordaria. A pior coisa que alguém poderia fazer naquele momento era acordá-la porque isso a deixaria de mal-humor pelo resto da manhã, quiçá pelo resto do dia. E foi assim, nesse momento delicado que ela ouviu seu celular tocar. Fusos-horários diferentes. Desencontro.
.
Terceira tentativa:
A menina acordou com o humor particularmente ácido naquela manhã. Não, o pesadelo no meio da noite não tirou o seu sono e ela até poderia dizer que dormiu bem. O que de fato lhe perturbou foi a declaração de amor ouvida logo cedo ao telefone. Descompasso.
.
Quarta tentativa:
A menina acordou no lugar errado, ao lado da pessoa errada. A incoerência entre a declaração de amor recebida a presença de outrem em sua cama trouxe-lhe um sentimento intenso de solidão. Esta foi a alfinetada que recebera, fruto de suas próprias tentativas de desapego. Desacerto.
.
Quinta tentativa:
A menina acordou com uma dor de cabeça aguda, a garganta seca. É incrível como o vinho se torna nocivo no dia seguinte – e ainda mais quando se dorme pouco. Levantou-se com o passo torto e sôfrego e foi direto para o banho. Ainda sentia no corpo a presença daquele outro corpo que pouco ou nada tinha a ver com o seu. Desafino.
.
Desafino.
Desacerto.
Descompasso.
Desencontro.
Desperdício.
.
A profunda solidão de quando não se está só.
E as perguntas de sempre, ressoando, ressoando, ressoando...
E daqui, o que vou levar?
E daqui, quem vai me levar?


(Texto baseado em rabiscos escritos em Copacabana - Bolívia, no dia 31 de janeiro de 2008).

sábado, 1 de março de 2008

A pequena Sereia

A minha história preferida, na infância:

Na parte mais profunda do oceano, gavia um castelo onde morava o rei do mar, com sua esposa e seis filhas, muito bonitas: sereias de cabelos compridos e sedosos e uma cauda de peixe muito brilehante, coberta de escamas reluzentes e nacaradas. O rei estava contente. Suas filhas cresciam bonitas e ajuizadas. O canto e o sorriso delas enchiam os salões de coral e âmbar do suntuoso castelo, e eram muito bondosas com todos os habitantes do oceano.
.
As princesas do mar se distraiam dando comida para os peixinhos e observando o jogo de cores que se formava na água quando entravam os raios de sol, desde a superfície. Todas tinham curiosidade em saber como seria o mundo fora dali. Mas a mais moça já conhecia alguma coisa, pois tinha um segredo: ela sabia como eram os homens porque, entre os restos de um naufragio, tinha encontrado a estátua de marfim de um moço com pernas loingas e rosto bonito, pelo qual se apaixonara.
.
Todos os dias, ao entardecer, a mocinha nadava ao lado desse seu amigo e conversava com ele, como se a estátua pudesse responder. Por isso, a princesinha sabia como eram os seres humanos e esperava, com ansiedade, o momento de conhecê-los. Este momento chegaria quando fizesse quinze anos já que, nesta data, todas as princesinhas subiam à superfície para admirar o mundo lá de cima. Como ainda faltava muito tempo para isso, a sereiazinha esperava sonhando e conversando com seu amigo de pedra.
.
Quando sua irmã mais velha fez quinze anos e subiu à superfície, voltou ao palácio contando coisas maravilhosas: a cidade era linda! Tinha torres muito altas e, ao entardecer, soavam os sinos das igrejas. Havia muito movimento de carruagens puxadas por lindos cavalos e os humanos riam e cantavam como elas.
.
No ano seguinte, foi a vez da segunda irmã. Ela chegou à superfície ao entardecer e cantou que os seus olhos nunca tinham visto nada mais bonito que o pôr do sol deixando o céu todo colorido, em vários tons de vermelho ede dourado, difíceis de descrever.
.
A terceira das irmãs era uma jovenzinha audaz e decidida que se aproximou da praia para poder ver melhor os homens. Escondendo-se entre as ondas, pôde ver um grupo de crianças que tomamva banho de mar, rindo e cantando. A quarta das princesas era uma sereiazinha tímida que mal tirou a cabeça de dentro d'agua. Ela contou à sua família que vira o céu, cimo um sino azul de cristal sobre as ondas, pelas quais deslizava uma linda embarcação com velas brancas estendidas como as assas das gaivotas.
.
Quando a quinta das princesas subiu à superfície era inverno e sobre o mar verde flutuavam, brilhando como diamantes, grandes icebergs. A princesa subiu em um deles e deixou-se levar, indo em busca de mares mais quentes, regressando, depois, à sua casa. Todas as sereias tinham gostado da sua viagem, mas nenhuma delas voltou a pensar na terra dos homens. Eram felizes ao lado dos seus paus e irmãs, no seu palácio de coral e no seu mar, cheio de tesouros.
.
Só a pequena sereria continuava sonhanco com o que as outras tinham contado. Finalmente chegou a sua vez. Quando chegou à superfície, entardecia e um barco iluminado passou ao seu lado. Estavam fando uma festa a bordo e os fogos artificiais estouravam no céu, caindo como uma chuva de estrelas. De repente, a princesinha teve uma grande surpresa: sobre o convés do barco havia um homem igualzinho ao seu amigo de pedra. Era o jovem príncipe do reino que estava fazendo dezessete anos naquela noite. A sereiazinha gostou tanto dele que seguiu o barco durante sua travessia. Durante a noite caiu um forte temporal e ondas enormes batiam com tanta força no barco que acabou destruindo-o.
.
Os tripulantes lutaram para salvar suas vidas, mas não conseguiram. O príncipe foi nadando para a praia, mas desmaiou antes de chegar, ficando a mercê das ondas. Então a sereiazinha levou-o até a praia. Já estava quase amanhacendo quando a menina viu aproximar-se um grupo de moças vestidas de branco, que vinham de um convento.
.
A sereiazinha escondeu-se entre as pedras e viu como uma das mocinhas se aproximava do príncipe e, levantando sua cabeça, falou-lhe com doçura. O príncipe abriu os olhos e sorriu, pensando que ela o salvara. E depois de reanimar-se, levantou-se, afastando-se com o alegre grupo na direção do convento. A pequena sereia ficou sozinha e triste. Para ela, o seu amado príncipe não dera nem um sorriso, um olhar ou uma palavra de agradecimento.
.
Muito triste, a princesa regressou ao fundo do mar. Quando suas irmãs pediram que lhes contasse como tinha sido a sua viagem, a menina quase não falou. Contou sobre os fogos de artifício e o naufrágio, e nada mais. Desde esse dia a sereiazinha passava todo o tempo triste e melancólica, e não parava de fazer perguntas à sua avó sobre o mundo dos homens.
.
Certa tarde, a menina contou às suas irmãs e algumas amigas, sua aventura com o príncipe. Elas a consolaram e uma das sereias disse que também já vira o príncipe, em seu castelo junto ao mar. A sereiazinha ques vê-lo novamente e foi, muitas vezes, com sua amiga, admirar as escadarias de mármore do palácio do rei.
.
A avó da menina sofria muito ao vê-la tão calada. Tentando fazer com que sua neta voltasse a ser tão alegre como antes, disse-lhe:
.
_ Nós, sereias, podemos viver trezentos anos. Ao morrermos, transformamo-nos em em branca espuma do mar. Os homens, no entanto, têm alma, e quando morrem vão para o céu, morar em lugares que nós jamais conheceremos.
.
A sereiazinha disse, então, que ela também queria ter alma, e a avó lhe respondeu que só o conseguiria se algum humano se apaixonasse por ela.
.
_Mas isso não acontecerá, querida. Para o reino do mar você é muito bonita, mas na terra a sua cauda brilhante parecerá muito feia.
.
Nessa mesma noite, a princesinha saiu do palácio e foi em busca da bruxa do mar, para pedir-lha que transformasse sua calda em pernas. Quando a mulher ficou sabendo o motivo pelo qual a menina queria ter pernas, respondeu-lhe:
.
_ Está bem, você terá pernas. E terá alma se conseguir o amor do príncipe. Mas se isso não aocntecer, o seu coração se partirá ao meio e voc~e se transformará em espuma. Vou te dar uma poção mágica, mas em troca, você deve entregar-me a sua voz.
.
A sereiazinha dirigiu-se à superfície linda e muda. A lua iluminava a escadaria do palácio e, arrastando-se, sentou-se em um degrau para beber a amarga poção que a bruxa lhe dera. Sentiu uma dor tão forte que desmaiou.
.
Na manhã seguinte, o príncipe saiu para dar um passeio e encontrou-a desmaiada, na escadaria do palácio. Achou que essa menina, muda e bonita, era tão encantadora, que levou-a consigo. Desde esse momento a sereiazinha ficou morando no palácio, ao lado do seu querido príncipe. Ninguém a igualava em graça e beleza e o príncipe sentia por ela um grande carinho. Gostava muito de passear com ela, contando-lhe seus sonhos.
.
_Gostaria de ver novamente uma linda mocinha que salvou a minha vida há alguns meses - disse-lhe, e a sereiazinha sentiu, então, que havia poucas esperanças para ela. O tempo passou e o rei pediu ao príncipe que se casasse. O jovem não queria, sonhando com o dia em que voltaria a ver a moça que o salvara, mas acabou concordando com seu pai: ele se casaria com a herdeira do reino vizinho.
.
A princesa chegaria dentro de uma semana, e a sereiazinha sentiu que a vida lhe escapava das mãos. Finalmente, o dia tão esperado chegou e o príncipe e a sereiazinha saíram pra esperar a caravana que traria a princesa. A pequena sereia estava muito triste; o príncipe, no entanto, não cabia em si de contente, porque o destino fizera com que que a proncesa fosse a mocinha que o príncipe pensara que o salvara do nalfrágio.
.
A partir deste momento o príncipe não quis saber de mais nada. Decidiram que a boda seria realizada a bordo de um grande barco. A sereiazinha também assistiria. No dia do casamento, no momento em que os noivos se beijaram, a sereiazinha olhou para as ondas do mar para que não a vissem chorar. Sabia que o seu sonho estava terminando e que, no dia seguinte, transformar-se-ia em espuma. .De repente sentiu que a chamavam do mar e viu suas irmãs, bonitas como sempre, mas sem seus cabelos compridos.
.
_ Vendemos os nossos cabelos para a bruxa do mar em troca de uma feitiçaria para salvar você. Queremos que seja novamente uma sereia, como nós. Mas para que isso aconteça, você deve enterrar este punhal no coração do príncipe, e quando ele morrer você terá novamente sua cauda de peixe para voltar ao fundo do mar onde estaremos esperando por você.
.
Depois de dizer isto, desapareceram. A sereiazinha pegou o punhal e entrou nos aposentos do príncipe. Ele estava ali, dormindo. A menina beijou-o na testa e saiu, jogando o punhal no mar. Mal o sol apareceu no horizonte, a menina lançou-se ao mar, sentindo que seu corpo já se transformava em espuma. .
.
Mas, ainda vivia! De repente viu um grupo de jovens muito bonitas, transparentes como gase, que lhe estendiam os braços. Eram as filhas da brisa que, compadecidas com o sofrimento da sereiazinha por tudo o que havia passado para conseguir uma alma, vinham ajudá-la. Elas podiam conseguir uma alma depois de fazer o bem com amor e alegria, durante trezentos anos. .
.
_Quando encontramos um bom menino e conseguimos fazê-lo sorrir, ganhamos um ano; mas, por cada menino que se comporte mal e nos deixe tristes, dão-nos um ano a mais - explicaram - Desta forma, somando e diminuindo boas ações, finalmente você terá uma alma.
.
A sereiazinha feliz e agradecida, perdeu-se no ar, com as outras jovens, para conseguir sua alma. Agora você já sabe: se algum dia a brisa fizer cosquinhas no seu nariz, sorria! Certamente é a pequena sereia, que graças a você, demorará menos para encontrar a sua alma.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Sobre o sexo

Sexo é o que se perde querendo ganhar.
Perde-se o decoro, a decência, a compostura.
Perde-se o recato, o auto-controle, a dignidade.
Perde-se o outro.
Perde-se a si mesmo.
.
Sexo é negociação sofrível.
Disputa.
Invasão.
Imposição e oposição.
Ordem e resistência.
.
Sexo é a visão da morte.
Desejo de morte e iminência da morte.
.
Sexo é degradação.
Dor aguda e desistência.
Renúncia.
Dissolução.
.
Sexo são dois que não se somam.
Sexo é solidão acompanhada, assistida e venerad
a.
.
Rabisco antigo e sem data, encontrado hoje.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Sem título 4

Menina, menina...
Seque suas lágrimas, menina.
Esqueça esse mergulho tolo.
Você já se conhece,
Você já se sabe.
Abra-se para o mundo, menina.
Você é o mundo.
Não faz sentido esse luto.
Não era isso que você queria?
Então...
Seque suas lágrimas, menina.
Respire fundo.
Você pode,
Agora.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Resoluções de Ano Novo

1- Ler os livros não lidos da estante;
2- Economizar e viajar;
3- Aprender a andar de salto alto;
4- Fazer exercício físico;
5- Estourar bolinhas de plástico bolha;
6- Usar brincos duas vezes por semana, ao menos;
7- Disciplinar-se;
8- Praticar masturbação;
9- Compartilhar segredos;
10- Derrubar vinho no tapete branco (sem querer);
11- Pedir Maria Rita em casamento;
12- Deixar-se fotografar mais vezes;
13- Adubar as plantinhas;
14- Comer salada;
15- Andar mais de ônibus;
16- Ligar para bons amigos;
17- Deitar na grama;
18- Cuidar da renite;
19- Perder menos tempo com o orkut;
20- Exercitar o desapego;
21- Contar estrelas;

22- Ouvir Los Hermanos até enjoar;
23- Ir ao cinema sem companhia;
24- Dirigir para ver o mar;
25- Mascar chiclete e fazer bolinhas;
26- Brincar com bolhas de sabão;
27- Amar sem medo;
28- Deixar o cabelo crescer;
29- Cantar no chuveiro (mais alto);
30- Escrever textos menos melancólicos;
31- Soltar as amarras;
32- Parar de cutucar feridas antigas (ou diminuir as sangrias);
33- Sentar no meio fio num fim de festa e se sentir completa, sozinha.

(...)