sábado, 29 de setembro de 2007

Casa comigo





"Casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo. A mais linda. A mais amada. Respeitada. Cuidada... A mais bem comida. E a pessoa mais namorada do mundo. E a mais casada. A mais festas... Viagens... Jantares... Casa comigo, que te faço a pessoa mais realizada profissionalmente. E a mais grávida. E a mais mãe. E a pessoa mais as primeiras discussões. A pessoa mais novas brigas e as discussões de sempre. Casa comigo, que te faço a pessoa mais separada do mundo. A pessoa mais solitária com um filho pra criar de todas. A pessoa mais foi ao fundo do poço e dá a volta por cima. A mais conheceu uma nova pessoa. A mais se apaixonou novamente... Casa comigo que te faço a pessoa mais casa comigo que te faço a pessoa mais feliz do mundo. "
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Michel Melamed

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Um outro espaço

Hoje pela manhã, tentei fazer uma postagem no Estive Pensando declaradamente não literária. Ocorre que houve um erro na publicação da postagem e eu perdi o texto. Eu fiquei chateada com o fato, mas bem poderia ficar por isso mesmo... Poderia, mas não ficou.

Fé é aquela coisa que nos faz acreditar que coincidências não são coincidências e num ato de verdadeira fé, eu interpretei a recusa do Estive Pensando ao meu texto como um sinal. Não seria por certo um sinal dos mais sérios, mas se podemos atribuir sentido a coisas que não necessariamente tenham sentido (minha melhor definição para o trabalho de um historiador) aqui estou.

O Estive Pensando sempre foi pretensamente literário. E quando o criei, eu tinha aquela convicção de que literatura é algo que não serve apenas a quem escreve e por isso mesmo não poderia só sensação. Para que a arte fosse arte, precisava ter também técnica ou seria apenas mera expressão. Essa foi uma fase de muitas certezas. E eu realmente estava convicta.

Passou o tempo e eu mudei. Posso ainda escrever histórias sobre outros, que não eu, descrever sensações que não as minhas e mais do que isso, tenho uma certa habilidade para falsear determinados sentimentos indesejáveis. Mas.. e o que se ganha com isso?

Deixei de ter tantas certezas. Passei inclusive a ver com desconfiança quem é muito convicto de qualquer coisa. Não deixa de ser ingênuo pensar que nós realmente podemos ter certeza de algo. Julgo religião e ciência da mesma forma. Não passam de crenças. Tenho nutrido, cada vez mais, uma admiração pela dúvida, pois só ela nos impulsiona à busca.

Se anos atrás, eu criei um blog querendo divulgar textos distantes do meu íntimo, hoje tenho um desejo contrário. E de certa forma, isso representa um retorno e também um crescimento. Retorno porque outrora eu escrevi diários. E crescimento porque com o tempo, a gente percebe que a vida (e as pessoas) nos tira tanto, que precisamos criar instrumentos para mergulhar nas nossas aspirações e pensamentos mais profundos, para que de algum modo possamos nos reconhecer.

E assim crio esse espaço, com a intenção de ser não-literário (na minha definição antiga). Não que isso signifique a ausência de ficção, pois às vezes, aqueles tais pensamentos profundos são repletos de fantasias (e da fantasia para a invenção pura e simples é um passo curto).

Já me parece um crime dizer que uma poesia é apenas uma poesia e que palavras são apenas palavras. Nunca são. Quem escreve, sabe. Alguém mais famoso do que eu disse, em palavras mais bonitas que as minhas, que tirar da poesia a sua capacidade de ser outras coisas além dela mesma, é arrancar-lhe o que ela pode ter de mais rico.

Estou então assumindo que o que escrevo sofre uma influência lógica e esperada de coisas que vivo (ou não vivo), leio, ouço. Até aí nenhuma novidade para qualquer leitor minimamente atento. Eu disse: a influência é esperada e lógica.

Talvez a partir de agora, minhas palavras se tornem mais fluídas e minha poesia mais poética, minha prosa mais pungente. As coisas são de fato mais densas e valiosas quando têm significado. Só não peçam para explicar em que "i" se encaixa cada "pingo". Nem tentem fazer seus próprios encaixes. É melhor deixar esse tipo de atitude para um crítico literário obcecado. Sim, todo crítico (e todo historiador, convenhamos) é em certa medida um obcecado. Ele tem consciência de que sua produção jamais passará de um mal entendido mais ou menos afortunado e ainda assim, continua sua busca. Por mais que haja clareza no que é dito, sempre há silêncios. Silêncios que são silêncios para quem interpreta, nunca para quem escreve.

E é claro...Em alguns dias eu só vou querer conversar, em outros, vou querer discutir um tema sem importância concreta. Com sorte, escreverei poesias. E se houver tempo e inspiração, contarei histórias. Até já tenho uma em mente: a de um amor que nunca fica, e de outro que nunca se declara.