sábado, 24 de novembro de 2007

Porque eu tenho um plano

_ Pra onde você vai?
_ Eu... Eu vou... Eu... Eh...
_ Você?
_ Olha, eu, eu... Eu tenho um plano. Isso é tudo que você precisa saber.
_ E é seguro esse seu plano?
_ Seguro, eu não sei... Mas, é um excelente plano, garanto!
_ Sabe, eu gosto de você, não quero que você se machuque ou se decepcione...
_Eu sei, eu sei disso!
_ Ás vezes, é importante ter um "plano B".
_ Não, não há um "plano B"! Nem pode haver! Isso é o primordial!
_ Você é louca, menina?
_ Você não entende... Se houver um plano B, eu vou me contentar em não realizar o plano A e vou desistir na primeira dificuldade. Então... Nada de plano B! Eu tenho um plano, um único plano e dará certo simplesmente porque eu não saberei o que fazer se não der.

(...)

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O problema da literatura

Certa vez, não faz tanto tempo assim, quando eu ainda considerava válido me preocupar com a política, fui advertida por um colega de sala para que eu não me envolvesse demasiado com aquilo tudo. "O problema da política é que ela é política", dizia-me ele. O colega não me era tão próximo e mal tínhamos trocado umas poucas frases e a isto talvez se deva o tom enigmático com que suas palavras me atingiram. Em outras palavras, não entendi bulhufas!

Passou o tempo e um maior conhecimento da própria política e da forma como suas estruturas operam, levaram-me à um afastamento do militantismo e a um longo e profundo silenciamento. Finalmente entendi e é fato: "o problema da política é que ela é política".

Bem, mas este não é e nem poderia ser um texto sobre política,trata-se pois, de um texto sobre a palavra escrita. O tema não me é nem um pouco original e se eu tivesse escolhido a política este texto certamente seria mais inédito, mas o leitor que o considerar enfadonho pode pulá-lo e isso não lhe fará falta alguma.

O problema da literatura é que é literatura. Palavras são palavras e sendo assim valem muito ou pouco, dependendo das expectativas de cada um. Nem me cai bem fazer um apelo à prática, uma vez que meus estudos e a vida que tenho levado levaram-me a tal inflexão teórica que aquilo que chamo "prática" no dia-a-dia é um exercício essencialmente teórico, mas ainda assim, apenas hoje, quero me voltar contra a textualidade excessiva.

Multiplicam-se as palavras, mas quem vai lê-las? Quem vai tirar proveito delas?

E não fosse o problema da própria escrita e das próprias palavras, a literatura tem um outro: o da invenção. Eu mesma, para tornar um texto bonito torço as palavras e as encaixo de forma que seus sons agradem meus ouvidos - e minha mente, um sentido ainda mais apurado e exigente. Ao torcer as palavras, brinco também com seus significados e misturo a realidade à fantasia, recusando-me a dizer diretamente qualquer coisa que seja. Ora, hoje repudio não só a literatura e sua verborragia mal explicada, mas também sua preocupação estética!Não, hoje eu não quero pentear os cabelos, quero é ficar de pijama o dia inteiro.

E onde chagamos com tudo isso? Perdemo-nos num labirinto de palavras com que intento? E por fim: o que afinal de contas isso quer dizer, na prática?

domingo, 11 de novembro de 2007

Sem título 3

Você lembra quando me deu aquela caixinha com um laço de fita vermelha?
Puxa, eu achei tão bonita aquela caixinha.
Nem quis abri-la para não correr o risco de estragar.
.
Você disse que o que tinha dentro da caixinha era meu, só meu.
E eu quase desacreditei...
Mas que era sua intenção, isso era.
.
Hoje abri a caixinha.
Acabou a pena da fita.
.
Lá dentro eu vi um mundo em palavras.
Lindas palavras...
Escolhidas com capricho, com devoção.
Mais do que isso: escolhidas com paixão e com dor.
.
Mas a verdade...
A dura verdade é que não era verdade.
As palavras nunca foram minhas, e nunca poderiam ser.
As palavras eram no máximo tuas.
E eu fui no máximo o teu pretexto.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Sem título 2

O menino olha a menina de longe e ensaia uma aproximação. Pára, olha, pensa... Retira do bolso um pedaço de papel amaçado e um toco de lápis. Encostado no tronco de uma arvore, o menino rabisca uma declaração de amor com sua caligarafia ruim. Olha novamente para a menina, as mãos trêmulas. Decidido, ainda que com medo, caminha em direção a ela. No caminho, arranca uma florzinha amarela do mato.
.
- Ó! É pra você.
.
O menino assim se faz presente.
O menino assim mostra que ama.
.
A menina olha, gagueja, tenta. Não consegue. A palavra não sai. Agradece apenas com um leve sorriso.
.
O menino se decepciona e vai embora, triste.
.
A menina sussurra, já sozinha: "eu também".

(Texto rabicado no mês de outubro, na última página de um livro.)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Meu corpo

Cada inspiração é um anseio,
Cada expiração, um vazio...
.
Cada centímetro de minha pele...
Mesmo as pontas,

.........as pontas dos dedos;
Cada pingo de meus fluídos...
Mesmo as gotas,
. .......as gotas de saliva;
.
Tudo, tudo em meu corpo te espera.
. ......................... . e te precisa.
.
Meu seio pulsa em tua ausência.
. ..........................Toca-me.
Minha nuca não cede sem teus beijos.
. .................................Suga-me.
Minhas pálpebras não cerram sem teu amasso.
. ...................................... Penetra-me.
.
Invada-me,
Preencha-me,
Completa-me.

.
Meu corpo é um corpo que saudades sente.