segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O problema da literatura

Certa vez, não faz tanto tempo assim, quando eu ainda considerava válido me preocupar com a política, fui advertida por um colega de sala para que eu não me envolvesse demasiado com aquilo tudo. "O problema da política é que ela é política", dizia-me ele. O colega não me era tão próximo e mal tínhamos trocado umas poucas frases e a isto talvez se deva o tom enigmático com que suas palavras me atingiram. Em outras palavras, não entendi bulhufas!

Passou o tempo e um maior conhecimento da própria política e da forma como suas estruturas operam, levaram-me à um afastamento do militantismo e a um longo e profundo silenciamento. Finalmente entendi e é fato: "o problema da política é que ela é política".

Bem, mas este não é e nem poderia ser um texto sobre política,trata-se pois, de um texto sobre a palavra escrita. O tema não me é nem um pouco original e se eu tivesse escolhido a política este texto certamente seria mais inédito, mas o leitor que o considerar enfadonho pode pulá-lo e isso não lhe fará falta alguma.

O problema da literatura é que é literatura. Palavras são palavras e sendo assim valem muito ou pouco, dependendo das expectativas de cada um. Nem me cai bem fazer um apelo à prática, uma vez que meus estudos e a vida que tenho levado levaram-me a tal inflexão teórica que aquilo que chamo "prática" no dia-a-dia é um exercício essencialmente teórico, mas ainda assim, apenas hoje, quero me voltar contra a textualidade excessiva.

Multiplicam-se as palavras, mas quem vai lê-las? Quem vai tirar proveito delas?

E não fosse o problema da própria escrita e das próprias palavras, a literatura tem um outro: o da invenção. Eu mesma, para tornar um texto bonito torço as palavras e as encaixo de forma que seus sons agradem meus ouvidos - e minha mente, um sentido ainda mais apurado e exigente. Ao torcer as palavras, brinco também com seus significados e misturo a realidade à fantasia, recusando-me a dizer diretamente qualquer coisa que seja. Ora, hoje repudio não só a literatura e sua verborragia mal explicada, mas também sua preocupação estética!Não, hoje eu não quero pentear os cabelos, quero é ficar de pijama o dia inteiro.

E onde chagamos com tudo isso? Perdemo-nos num labirinto de palavras com que intento? E por fim: o que afinal de contas isso quer dizer, na prática?

3 comentários:

Lex disse...

Você faz assim:

vira dadaísta.

daí você joga um monte de palavras quaisquer dentro de um saco, chacoalha bem, e tira uma por uma.

Disso, você forma uma poesia.

Sem ordem, sem forma, sem sentido.

E é a arte mais descompromissada, sem interferências...

(mas aí eu pergunto: é arte? daí as pessoas me perguntam: o que é arte? daí eu pergunto de novo pra você, como eu já perguntei antes: a arte é pra ser entendida ou é pra se fazer entender?)

=)

Thiago Pacheco disse...

seu texto eh muito simples mas muito bom!

uma curiosidade eh q vc faz o mesmo q eu, as vezes tb "invento" palavras pra ficar com o som e estetica q quero!

abração se cuida!

Lucas Pacheco disse...

Simplesmente adorei a sua abordagem. Você escreveu sem muito reboco, esqueceu-se ou fez questão de não passar a maquiagem habitual (que não dispenso em meus textos). Mas, te pergunto: é a literatura que tem problemas?
Perceba... armas matam?
Pense nisso.
Gostei desse lugar, favoritado ;)