segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Texto sem inspiração numa noite inspirada (ou não)


Sabe... Eu vou contar uma coisa só pra você...
Eu tenho um vício.
Um vício antigo, desses difíceis de largar.
Nada assim muito pesado...
Não vou morrer de câncer ou de overdose por causa dele.
Mas tem lá o seu teor corrosivo.
.
Sou muito apegada ao passado.
Todo o tipo de passado.
Mesmo o meu...
Principalmente o meu.
.
Eu tenho até uma mania.
Mania de cutucar feridas.
Nem sempre dói.
Dessa vez nem doeu, juro.
..
Quando criança,
eu lembro que costumava raspar a palma da mão com um estilete.
Até sangrar.
Fazia meus desenhos.
Esculpia minhas iniciais.
Certa vez... eu inventei de tentar fazer uma tatuagem.
Cutuquei até ver o sangue e tratei logo de pingar tinta de caneta rosa lá dentro.
Quando a pele fechou, ficou lá o sinal.
Depois desapareceu.
Não deu certo.
Desisti.
..
Modifiquei a mania.
Parei de me cortar.
Só me torturo com a memória de vez em quando.
E não há tristeza nisso.
A tristeza não é triste quando a temos sob controle.
.
Uma hora ou outra, todos vamos sangrar.
Então, fazer-se sangrar pode ser só uma medida preventiva.
Uma vacina.
E das boas.
.
Sinto-me mais forte depois daquela cutucada com o estilete.
Até soube que tem uma doença assim.
Um disturbio psicológico.
Ah... Como eu odeio jalecos brancos e luvas de látex!
Fábricas de patologias!
.
Bem, então..
Você já sabe.
Se necessário, eu sei me ferir sozinha.
Eu só preciso de alguém pra me ajudar a respirar.
Seja meu ar...

2 comentários:

Mayra Luna disse...

vc já leu valsa nº6 de nelson rodrigues? acho q combina com seu blog. as cores, os textos, não sei. será vc uma sônia?
eu tb tenho um texto que fala sobre remoer o passado, mas não lembro o nome dele. leia...

Gavroche disse...

"E a dor é menor do que parece. Quando ela ela se corta ela se esquece..."

Dolorosamente belo...