quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Giz

A menina desenha uma reta no chão com um toco de giz. Dá três passos para trás, olha, pensa. Lembra das aulas de matemática e coloca uma seta em cada extremidade da linha. Sem isso, ela teria apenas uma semi-reta e era uma reta que ela queria, com os dois lados indicando o infinito.
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E afinal, que tipo de coisa precisa se mostrar infinita desta forma? "Ora, o tempo", diz a menina.
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A menina caminha metade da reta como quem se equilibra no meio fio, para e se senta ali mesmo. Ali, naquele ponto exato, um ponto em meio ao infinito de pontos que compõem uma reta a menina esmaga o giz, com certa fúria. Ali estava o seu presente. Só ali.
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Nada mais inquietante que poder olhar para um passado que se estima e para um futuro que se sonha, sem poder estar em nenhum outro lugar que não o presente. E sendo assim, a menina não pode ver o tempo isenta de preocupações.
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Perdida em questionamentos, a menina suspira bem alto. Fecha os olhos e se permite sentir a brisa. Levada pelo suave toque do tempo ela deita, as pernas soltas, semi-abertas. Com os dedos ainda sujos de giz, ela contorna os próprios lábios, tingindo-os de branco. E assim a menina espera. Espera que o vento lhe faça mulher e a leve para longe, muito longe dali.

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