segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O porquê das palavras inteiras

Não estou confusa.
Sei exatamente o tamanho do meu amor e dos meus desejos.
Eu não amava você, eu amo. É diferente.
E é um desses grandes amores que a gente cria e depois não sabe mais se é real ou imaginário. De qualquer forma, mesmo que eu tenha inventado esse amor, ele existe.

Mas eu também tenho amor-próprio e algum discernimento.
Precisava dizer que você não foi leal e que isso me deixou um gosto amargo na boca.
Precisava dizer que esperava muito mais de você, mas nunca soube cobrar.
Sou avessa às cobranças.

Eu opto pelas palavras inteiras porque já sei de mim. Ruminei cada um dos meus sentimentos e os aceito bem, tenho carinho por eles. Por causa disso, posso até me dar ao luxo de ser racional.

Fico aqui pensando sobre essa sua volta e me pergunto se você agora me oferece todas as suas flores por causa de algo que eu posso representar a você ou por que não consegue aceitar uma perda. Qualquer perda que seja. Preciso encarar que talvez você só não queira admitir que perdeu o jogo, por mais que já estivesse mais do que evidente que estava perdido. Para pessoas como nós, perder sempre dói. Seja um jogo de cartas, uma briga, um amor, um qualquer coisa que mecha com o orgulho. Existem gradações aí e é em busca delas que estou.

Perdoo você por todas as suas confusões e incompletudes, tenho também as minhas. Só não perdoo pelo tempo que se passou e não volta. Você já perdeu demais da minha vida e isso foi escolha sua. Eu poderia ter morrido nesse meio tempo. Tive até uma chance real para isso e de fato eu estive morta por dentro durante dias e dias e você não estava lá. Outras pessoas estavam e continuam comigo. Elas merecem hoje meu apreço, meu abraço e minha gratidão. E você eu não culpo por não ter tomado conhecimento do que se passou, mas culpo pelo silêncio.

E agora eu faço falta? E o que aconteceu durante esse tempo todo que não fiz nenhuma falta? O que faz com que agora seja diferente e você já não esteja confortável como antes? É o conhecimento da perda que fez diferença?

Esse é o tamanho da minha mágoa. Mas eu esqueço fácil diante de palavras bonitas. Você me inebria e eu não raciocino direito. Não estou me apegando à mágoa. Não sou rancorosa. Só estou agarrada ao meu amor-próprio.
Preciso de palavras inteiras e lógicas. Há sim meios de explicar o que sentimos com palavras, o único percalço é a dificuldade de encarar nossos sentimentos com sinceridade, aceitá-los e ter coragem para compartilhá-los. Tudo muito difícil.

O mais importante é dizer que não quero suas flores, ainda que sejam as melhores. Tampouco quero acesso ao seu jardim. Quero a sua casa. Os enfeites, a pintura descascada, o pó escondido embaixo do tapete, o chuveiro, o ralo, a cozinha e a cama. Não me entregue o que é bonito se já lhe dei as minhas vísceras.