domingo, 16 de dezembro de 2007

Apenas uma carta


Oi...

Eu nem sei porque escrevi "oi" no início, mas eu disse no título que seria uma carta, e cartas geralmente começam com algum tipo de cumprimento, então... Para ser objetiva, esta não é uma carta sobre o passado, mas uma carta sobre desejos para o futuro. Não, eu nem sei se é na verdade isso, mas enfim, eu só queria te contar que meu quarto hoje tem cheiro de rosas.

É uma coisa simples, mas ficou aqui atravessada. Eu nem sei se você pode entender e no fundo é isso que mais me cala. Eu sempre acho que você não entenderia. Não é culpa sua, também não é culpa minha, eu sei. Nunca é culpa de ninguém.

A gente sabe como ninguém o que são conexões perdidas, o que são fusos-horários diferentes.

Eu só queria tempo! Não aquele tempo para colocar as novidades em dia. Não aquele tempo para falar do cotidiano. Esse nunca me faz falta. Eu sempre tenho com quem falar sobre coisas banais e creio que não é diferente com você. O tempo que eu queria é pra falar das coisas que eu guardo aqui dentro bem trancadas. Eu queria o tempo suficiente para olhar em seus olhos e sentir que você é a pessoa certa e que com você eu posso dividir. Não que sejam coisas assim tão significativas, tão importantes ou tão surpreendentes, mas em todo o caso, são coisas minhas.

Eu acho que estou divagando. Estou inclusive exagerando. Sim, eu tenho esse problema com exageros... Mas não é por mal. É por amor, juro. Amor às palavras. Amor às palavras de amor.

Eu apenas queria que você soubesse que eu não desisti. Eu não abandonei o sonho antigo, apenas aceitei que não seria possível realizá-lo. E céus! Isso me doeu. Isso me dói. Isso eu carrego comigo sempre e sempre. E é por isso que eu mergulhei naquela crise tão difícil de sair. Não sei se você já sabia. Eu simplesmente acho que não sabia.

Um dia eu me peguei vivendo uma vida que não tinha nada a ver com o que eu sonhei, trilhando um caminho que me levaria a um lugar ao qual eu não queria ir. E o pior é que nem foi erro de cálculo, foi de alguma forma uma escolha. Uma escolha que de tão pensada, era impulsiva. Logo eu que sempre fui tão orgulhosa da minha própria consciência. Pois é... A minha consciência me traiu.

Sinto muito orgulho por você. Você tem sido forte justamente naquilo em que eu fui fraca.

Mas esta não é uma carta sobre o passado. É uma carta sobre o futuro e sobre meus desejos para o futuro. Aconteceu que em meio a essa crise, meu quarto passou a ter cheiro de rosas. E veja bem, aquelas rosas que habitualmente se vendem, não têm perfume, mas esta exalou um perfume tão intenso que se espalhou por todo o meu quarto e impregnou minha pele. É uma rosa branca incomum, inebria.

É, estou feliz. Estou trilhando um novo rumo e você me verá cada vez mais nele. O sonho pode parecer diferente, mas na verdade não é. Você pode até pensar que sou apenas uma pessoa capaz de fazer muitas coisas bem feitas e que um dia colocou uma idéia na cabeça, foi atrás, viu que não era isso e desistiu. Mas não é isso, não mesmo. Eu tenho um tipo de essencia artística que mesmo tentando não consegui negar. É uma necessidade. É uma agulha que cutuca, cutuca e não me deixa descansar. Arde a arte. Acho que isso você entende.

Estou começando um novo caminho: vem comigo. Se não der, encontre-me lá no final, eu vou ser igualmente feliz.
Enfim... Eu só queria que você soubesse...
Não esqueça: meu quarto hoje tem cheiro de rosas. E é um cheiro forte, inebria.