domingo, 16 de outubro de 2011
segunda-feira, 24 de maio de 2010
E a menina saiu para dançar...
A menina se pôs a olhar uma taça de vinho que estava sobre a mesa. A cabeça inclinada e o olhar fixo, cheio de medos e desejos. Medo porque era a primeira vez que a menina se sentia tão atraída por uma bebida da qual ela nem conhecia o gosto. E desejo sobretudo porque algo parecia lhe dizer que todo medo precisa ser enfrentado, toda dúvida deve ser vivida.
E assim, com as mãos trêmulas e os lábios frios, ela bebeu. E aproveitando que já tinha bebido, permitiu-se saborear por mais um tempo, ainda que o vinho não fosse dos melhores e que tudo indicasse que no dia seguinte ela seria acordada por uma bela dor de cabeça. E a bebida aqueceu seu corpo e lhe deu vontade de sair e viver uma vida só dela, de mais ninguém. E foi assim que pela primeira vez, a menina resolveu sair para dançar sozinha.
Em meio a uma multidão de anônimos a menina dançou até que seus pés doessem demais, até que os seus cabelos ficassem completamente molhados de suor, até que suas roupas não parecessem mais roupas de... de menina. E quando já não se via mais a menina que havia nela e que de fato era ela, a menina começou a ser atormentada por olhares penetrantes e desejosos que na verdade, não a viam. E esses olhos comeram suas vestes, seu perfume, sua timidez, sua sensatez.
Perseguida por tantos olhares tão cheios de vontades que não lhe cabiam, a menina só teve como fugir. E correndo mais do que deveria, mais do que sabia, a menina que nunca foi boa em corrida, chegou à beira de um grande lago. Como sempre fazia, encostou a pontinha do pé para ver se a água era muito fria. Do fundo do peito a menina retirou um pedacinho de papel amassado em que o menino escrevera declarações de amor à lápis e com a letra torta. Era a letra torta mais linda do mundo, pensou a menina. E era também muito triste que o menino não tenha escrito com caneta daquelas bem fortes, porque se ela não tivesse guardado tão bem as palavras dele, talvez nem conseguisse mais lê-las de tanto que o papel se amassou com o tempo. E então ela teve medo de que as palavras do menino, como ele próprio, também nunca ficassem.
E foi assim, que com os olhos cheios de lágrimas e agarrada ao que sobrou das palavras de amor daquele que sempre a viu que a menina se preparou para o mergulho. E num instante de receio, ela olhou para trás e viu rosas deixadas por ninguém sabe quem que quis com ela dançar. Morta por dentro, a menina teve pena das rosas que agora pareciam tão vivas, mas que muito frágeis, murchariam à luz do sol. Foi então que ela fechou os olhos e pulou na água gélida.
Lá no fundo do lago, onde o frio e a solidão são suficientes para que a menina não sinta quase nada é que ela quis ficar. E mesmo que ela tenha amassado e molhado todo o papelzinho com as palavras de amor, ela continua esperando que o menino encontre um jeito de ir lá resgatá-la. E enquanto ela espera, apesar de congelar por fora, mantém o coração aquecido com mais um ensaio daquelas palavras de amor de quem nunca se declara.
E assim, com as mãos trêmulas e os lábios frios, ela bebeu. E aproveitando que já tinha bebido, permitiu-se saborear por mais um tempo, ainda que o vinho não fosse dos melhores e que tudo indicasse que no dia seguinte ela seria acordada por uma bela dor de cabeça. E a bebida aqueceu seu corpo e lhe deu vontade de sair e viver uma vida só dela, de mais ninguém. E foi assim que pela primeira vez, a menina resolveu sair para dançar sozinha.
Em meio a uma multidão de anônimos a menina dançou até que seus pés doessem demais, até que os seus cabelos ficassem completamente molhados de suor, até que suas roupas não parecessem mais roupas de... de menina. E quando já não se via mais a menina que havia nela e que de fato era ela, a menina começou a ser atormentada por olhares penetrantes e desejosos que na verdade, não a viam. E esses olhos comeram suas vestes, seu perfume, sua timidez, sua sensatez.
Perseguida por tantos olhares tão cheios de vontades que não lhe cabiam, a menina só teve como fugir. E correndo mais do que deveria, mais do que sabia, a menina que nunca foi boa em corrida, chegou à beira de um grande lago. Como sempre fazia, encostou a pontinha do pé para ver se a água era muito fria. Do fundo do peito a menina retirou um pedacinho de papel amassado em que o menino escrevera declarações de amor à lápis e com a letra torta. Era a letra torta mais linda do mundo, pensou a menina. E era também muito triste que o menino não tenha escrito com caneta daquelas bem fortes, porque se ela não tivesse guardado tão bem as palavras dele, talvez nem conseguisse mais lê-las de tanto que o papel se amassou com o tempo. E então ela teve medo de que as palavras do menino, como ele próprio, também nunca ficassem.
E foi assim, que com os olhos cheios de lágrimas e agarrada ao que sobrou das palavras de amor daquele que sempre a viu que a menina se preparou para o mergulho. E num instante de receio, ela olhou para trás e viu rosas deixadas por ninguém sabe quem que quis com ela dançar. Morta por dentro, a menina teve pena das rosas que agora pareciam tão vivas, mas que muito frágeis, murchariam à luz do sol. Foi então que ela fechou os olhos e pulou na água gélida.
Lá no fundo do lago, onde o frio e a solidão são suficientes para que a menina não sinta quase nada é que ela quis ficar. E mesmo que ela tenha amassado e molhado todo o papelzinho com as palavras de amor, ela continua esperando que o menino encontre um jeito de ir lá resgatá-la. E enquanto ela espera, apesar de congelar por fora, mantém o coração aquecido com mais um ensaio daquelas palavras de amor de quem nunca se declara.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Dicionário: Insônia
Taquicardia; Virar-se de um lado para o outro inúmeras vezes seguidas no intervalo de dez minutos; Desacordo entre as partes do corpo que querem dormir e as que querem acordar; Livros revirados, sem que haja ânimo de iniciar a leitura; Conferir a caixa de e-mails cinquenta vezes num horário em que ninguém envia e-mails; Olhar o relógio de meia em meia hora e cada vez mais odiar não ter dormido; Repassar incansavelmente as tarefas do dia seguinte e do dia seguinte ao dia seguinte; Sentir raiva do tempo que passa ou do tempo que não passa; Sentimento de frustração por estar pela metade; Saudades de beijos no meio da noite; Ver o dia nascer e achar graça da oportunidade de noite perdida; Torcer para que fusos horários diferentes causem encontros inesperados no msn; Hiper-sensibilidade a ruídos durante o dia; Passar um dia inteiro zumbi e à noite estar cansada demais para dormir.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Sem título número qual? (ou Perrenoud pode esperar)
Quem conhece, sabe: a menina só escreve quando está em crise, ou apaixonada, ou tem um bom assunto. Quando tem assunto, poucas vezes a menina escreve em blogs. Ter assunto é algo que a torna prolixa e ninguém tem paciência de ler. Aí a menina se deprime.
Hoje é um dia que a menina separou para ler Perrenoud. Foi um sacrifício para a menina encontrá-lo em meio às estantes da biblioteca porque ela não é boa em ordem alfabética, nem em números de chamada. E depois disto: o livro. Página 27, página 28, página 32. A menina pulou a introdução. Ela sempre acha um abuso ter que ler no início aquilo que o autor escreveu só no final. Se o livro é bom, ela volta. Depois lê as orelhas, a bibliografia, as notas dos editores, a ficha catalográfica e tudo o mais onde encontra letrinhas. Se o livro é ruim, ela se sente aliviada por ter perdido o falso início.
Perrenoud é bom. Foi só o dia errado. A menina teve vontade de ler outras coisas. Coisas de pessoas conhecidas e não-francesas. Nada contra às pessoas francesas, é só porque ela não conhece ninguém que seja francês. E aí a menina abriu blogs que se fossem livros estariam empoeirados, com teias de aranhas e comidos por cupins. Malditos cupins! Comem sempre pedaços de palavras e depois já não se pode compreender se era apertar ou apartar. E nem é preciso dizer que isso muda muita coisa. Mas ela, prolixa que só, diz.
E assim, na vontade das leituras conhecidas, ela encontrou uma leitura nova. E foi melhor ainda que as leituras antigas porque significava que os amores antigos podem também serem amores novos. Não é lindo? A menina acha que é. E exatamente na semana em que a menina tinha decidido abandonar de uma vez por todas aquele amor que nunca ficava e que nasceu aqui mesmo em segredo, ela parou e sorriu.
Sorriu porque é bom lembrar. Sorriu porque dia desses ela fez um rabisco na agenda que cospia compromissos e costumava zombar dela por testemunhar os horários e prazos não cumpridos. E nesse rabisco, a menina falou que tomava café só para impressionar e parecer adulta, mas na verdade era chocolate quente que ela bebia. E então a menina sorriu porque foi ela mesma quem inventou a crise, assim como o café.
Deve ser saudade, o que sente a menina. Saudade dos dias vazios e das tardes chuvosas. Saudade dos fragmentos, dos rabiscos. Saudade daqui.
No fim das contas, a menina quer dizer que o tempo passou e ela agora sabe se declarar. E existe lá dentro, bem fundo uma vontade gigante de jogar todos os cacarecos que ela carrega na bolsa no lixo e sentar e rir da agenda. Que tipo de agenda prevê um dia para Perrenoud? A mesma que marca horários para encontros de amor, é verdade. Ainda bem que quando a menina entra em crise ou se apaixona, ela pára e escreve. Ainda bem que ela ainda se apaixona de novo, pelas pessoas antigas, assim como pelas novas. E quem sabe, num cantinho esquecido no meio das rasuras, tenha algum espaço ainda para que ela ame até Perrenaud.
Hoje é um dia que a menina separou para ler Perrenoud. Foi um sacrifício para a menina encontrá-lo em meio às estantes da biblioteca porque ela não é boa em ordem alfabética, nem em números de chamada. E depois disto: o livro. Página 27, página 28, página 32. A menina pulou a introdução. Ela sempre acha um abuso ter que ler no início aquilo que o autor escreveu só no final. Se o livro é bom, ela volta. Depois lê as orelhas, a bibliografia, as notas dos editores, a ficha catalográfica e tudo o mais onde encontra letrinhas. Se o livro é ruim, ela se sente aliviada por ter perdido o falso início.
Perrenoud é bom. Foi só o dia errado. A menina teve vontade de ler outras coisas. Coisas de pessoas conhecidas e não-francesas. Nada contra às pessoas francesas, é só porque ela não conhece ninguém que seja francês. E aí a menina abriu blogs que se fossem livros estariam empoeirados, com teias de aranhas e comidos por cupins. Malditos cupins! Comem sempre pedaços de palavras e depois já não se pode compreender se era apertar ou apartar. E nem é preciso dizer que isso muda muita coisa. Mas ela, prolixa que só, diz.
E assim, na vontade das leituras conhecidas, ela encontrou uma leitura nova. E foi melhor ainda que as leituras antigas porque significava que os amores antigos podem também serem amores novos. Não é lindo? A menina acha que é. E exatamente na semana em que a menina tinha decidido abandonar de uma vez por todas aquele amor que nunca ficava e que nasceu aqui mesmo em segredo, ela parou e sorriu.
Sorriu porque é bom lembrar. Sorriu porque dia desses ela fez um rabisco na agenda que cospia compromissos e costumava zombar dela por testemunhar os horários e prazos não cumpridos. E nesse rabisco, a menina falou que tomava café só para impressionar e parecer adulta, mas na verdade era chocolate quente que ela bebia. E então a menina sorriu porque foi ela mesma quem inventou a crise, assim como o café.
Deve ser saudade, o que sente a menina. Saudade dos dias vazios e das tardes chuvosas. Saudade dos fragmentos, dos rabiscos. Saudade daqui.
No fim das contas, a menina quer dizer que o tempo passou e ela agora sabe se declarar. E existe lá dentro, bem fundo uma vontade gigante de jogar todos os cacarecos que ela carrega na bolsa no lixo e sentar e rir da agenda. Que tipo de agenda prevê um dia para Perrenoud? A mesma que marca horários para encontros de amor, é verdade. Ainda bem que quando a menina entra em crise ou se apaixona, ela pára e escreve. Ainda bem que ela ainda se apaixona de novo, pelas pessoas antigas, assim como pelas novas. E quem sabe, num cantinho esquecido no meio das rasuras, tenha algum espaço ainda para que ela ame até Perrenaud.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Dicionário: Abandono
Música triste tocada milhões de vezes seguidas; rejeição; orgulho ferido; sucessivas tentativas de contato sem resposta; prisão de vidro que não deixa ninguém sair, mas expõe qualquer um ao ridículo da tentativa; esperar um sms um dia e uma noite inteira; insônia; confundir o som do eco com uma resposta; aceitar pedidos de desculpas como quem aceita um anestésico; tristeza profunda; ignorar; grande e definitivo buraco no coração que precisa de 15 remendos para estancar o sangue; perceber que quando você pediu para não soltarem de sua mão, já não tinha ninguém mais lá; declarações de amor dissolvidas nos pensamentos egoístas de alguém que deixou de se importar.
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Porque é preciso se desprender...
Num dia você ama. É correspondida. É a pessoa mais feliz do mundo. É a pessoa mais feliz de todas as pessoas mais felizes do mundo. Tudo em você é completo.
Você nem queria.. Nem tava procurando... Você não estava nem aí pro amor. Você nem queria saber de amor. Você só estava de bem com você e aí... Aí vem o amor.
E você é a pessoa mais linda. É a pessoa mais inteligente. A pessoa mais interessante. A mais tudo da face da terra. Qualquer um daria qualquer coisa por você. E você pode rir de todos os "qualquer um" que aparecerem, porque você escolheu um amor. Você pode dizer que escolheu com a boca cheia. E foi a melhor escolha!
E de repente você já não pode respirar sem amor. Você não pode mais nada. Você precisa viver aquilo. Você precisa, precisa, precisa.
É nessa hora que o amor diz que você engordou. Você não é mais a mesma. Você é uma gorda, chata, anti-social. Você é um pé-no-saco. Você só estraga tudo. Sempre estraga tudo. E você tem vícios terríveis. E você é mau-humorada. E você esquece de mim. E céus, como você tá feia! E eu não sei mais porque quis você um dia. E eu não vejo mais sentido pra nós. E eu não vejo futuro. E eu estou cansado. E eu não aguento mais. E eu vou sair, vou fazer alguma coisa que me deixe feliz.
E você fica aí. Você não vale um nada, mas você é minha. E eu gosto de manter as coisas minhas. Não vou deixar você ir. Não posso deixar você me descartar assim. Ninguém me descarta assim, ainda mais um nada! Um nada gorda, chata e mau-humorada que nem você.
E então você precisa partir. Você precisa se desprender. Você precisa ouvir afetos e não cobranças. Você precisa de você de novo. E você se desprende, mas só sobra o vácuo. O imenso vácuo. O grande vazio dos sonhos perdidos. O vazio do fim das críticas. O vazio do fim das cobranças. O vazio do fim das discussões intermináveis por qualquer coisa. O vazio de tudo o que você não queria mais, mas continuava agarrada porque não sabia mais o que seria de tudo aquilo que você quis se você não quizesse mais!
E aí é hora de juntar os pedaços.
Você nem queria.. Nem tava procurando... Você não estava nem aí pro amor. Você nem queria saber de amor. Você só estava de bem com você e aí... Aí vem o amor.
E você é a pessoa mais linda. É a pessoa mais inteligente. A pessoa mais interessante. A mais tudo da face da terra. Qualquer um daria qualquer coisa por você. E você pode rir de todos os "qualquer um" que aparecerem, porque você escolheu um amor. Você pode dizer que escolheu com a boca cheia. E foi a melhor escolha!
E de repente você já não pode respirar sem amor. Você não pode mais nada. Você precisa viver aquilo. Você precisa, precisa, precisa.
É nessa hora que o amor diz que você engordou. Você não é mais a mesma. Você é uma gorda, chata, anti-social. Você é um pé-no-saco. Você só estraga tudo. Sempre estraga tudo. E você tem vícios terríveis. E você é mau-humorada. E você esquece de mim. E céus, como você tá feia! E eu não sei mais porque quis você um dia. E eu não vejo mais sentido pra nós. E eu não vejo futuro. E eu estou cansado. E eu não aguento mais. E eu vou sair, vou fazer alguma coisa que me deixe feliz.
E você fica aí. Você não vale um nada, mas você é minha. E eu gosto de manter as coisas minhas. Não vou deixar você ir. Não posso deixar você me descartar assim. Ninguém me descarta assim, ainda mais um nada! Um nada gorda, chata e mau-humorada que nem você.
E então você precisa partir. Você precisa se desprender. Você precisa ouvir afetos e não cobranças. Você precisa de você de novo. E você se desprende, mas só sobra o vácuo. O imenso vácuo. O grande vazio dos sonhos perdidos. O vazio do fim das críticas. O vazio do fim das cobranças. O vazio do fim das discussões intermináveis por qualquer coisa. O vazio de tudo o que você não queria mais, mas continuava agarrada porque não sabia mais o que seria de tudo aquilo que você quis se você não quizesse mais!
E aí é hora de juntar os pedaços.
segunda-feira, 29 de junho de 2009
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